Um antídoto inovador contra venenos de serpentes foi desenvolvido a partir dos anticorpos de um herpetologista amador que se expôs voluntariamente a centenas de picadas ao longo de duas décadas. A pesquisa, publicada na revista *Cell*, isolou dois anticorpos capazes de neutralizar toxinas de 19 espécies de cobras, principalmente do grupo dos elapídeos, como najas e mambas-negras. O soro, que inclui uma molécula chamada varespladib, foi testado com sucesso em camundongos e pode ser administrado por via intramuscular, sem a necessidade de identificar a espécie responsável pelo acidente.
A motivação por trás do projeto era criar um antídoto universal, especialmente útil em regiões remotas com acesso limitado a cuidados médicos. Atualmente, os soros mais utilizados são produzidos a partir de anticorpos de cavalos e têm eficácia restrita a espécies específicas. Segundo a OMS, picadas de cobra causam até 138 mil mortes por ano, muitas delas em áreas sem registros adequados. O novo composto representa uma esperança para reduzir esse número.
A próxima fase de testes ocorrerá na Austrália, onde o antídoto será avaliado em cães vítimas de envenenamento. Se os resultados forem positivos, o medicamento avançará para ensaios clínicos em humanos, podendo se tornar um marco no tratamento global de acidentes com serpentes. A pesquisa demonstra como a colaboração entre cientistas e voluntários dedicados pode levar a avanços significativos na medicina.