A escritora relata como uma gripe aparentemente comum a levou a uma crise de saúde grave, deixando-a dependente de um ventilador e com energia tão reduzida que até respirar se tornou uma tarefa exaustiva. Longe de ser um “borrão” no tempo, como costuma-se descrever períodos difíceis, os meses que se seguiram foram marcados por uma lucidez dolorosa, em que ela desejava, ironicamente, que tudo fosse menos nítido. A experiência a levou a refletir sobre a exclusão social enfrentada por mulheres com deficiência, um dos maiores grupos minoritários do mundo.
O texto, extraído de seu novo livro, destaca como a narrativa sobre deficiência muitas vezes é romantizada ou dramaticamente exagerada, quando, na realidade, a maioria das histórias começa de forma banal — como uma ida ao pub que termina em complicações médicas devastadoras. A autora contrasta a expectativa de um “desastre espetacular” com a realidade prosaica de sua própria história, enfatizando que a deficiência não precisa de dramalhões para ser válida.
Apesar do tom pessoal, a reflexão aponta para uma questão maior: a necessidade de mudanças estruturais na forma como a sociedade inclui — ou exclui — pessoas com deficiência, especialmente mulheres. A escritora não apenas compartilha sua jornada, mas também sinaliza a urgência de ações concretas para transformar essa realidade, sem perder a esperança de que o cenário está, mesmo que lentamente, mudando.