Em abril de 2010, um temporal devastador atingiu Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, causando deslizamentos que deixaram 48 mortos e 200 desaparecidos. O Morro do Bumba, comunidade construída sobre um antigo lixão, foi o local mais afetado, com dezenas de residências soterradas. Entre as vítimas estava a família do pintor Raphael Lacerda de Abreu, que perdeu o pai, a madrasta, o irmão e um amigo próximo. Sobreviventes foram encaminhados a abrigos precários, onde enfrentaram condições insalubres e prolongadas esperas por moradias definitivas.
Cinco anos depois, parte dos desabrigados foi reassentada em conjuntos habitacionais, como os residenciais Zilda Arns I e II, mas problemas estruturais persistiram, incluindo rachaduras e falta de transparência nos laudos técnicos. Enquanto isso, o aluguel social oferecido pelo governo estadual, sem reajustes por anos, mostrou-se insuficiente para garantir condições dignas. Adriana Cláudio Pereira da Silva, que viveu quatro anos em um quartel abandonado com a família, destacou a falta de assistência adequada e a demora na entrega de soluções permanentes.
Especialistas apontam que a tragédia poderia ter sido evitada com políticas de prevenção e realocação da população de áreas de risco. A Prefeitura de Niterói afirmou ter investido em infraestrutura e monitoramento desde 2013, mas críticos destacam a necessidade de uma abordagem mais ampla, que garanta moradia segura e acesso a serviços básicos. A falta de ação prévia e a demora na resposta pós-desastre deixaram marcas profundas nos sobreviventes, que ainda lidam com o trauma e a incerteza sobre o futuro.