Durante a Sexta-Feira Santa, a tradicional Via Sacra de Planaltina, no Distrito Federal, reuniu cerca de 100 mil fiéis, que acompanharam as 14 estações da paixão de Cristo, encenadas por 1,4 mil voluntários. Entre o público, comerciantes como Matheus de Souza, de 27 anos, aproveitaram os momentos de silêncio para vender salgadinhos, enquanto sonhava com um emprego fixo e a chance de retomar os estudos para cuidar melhor de suas duas filhas. Pai solo, ele divide seu tempo entre um trabalho como auxiliar de limpeza e a venda de produtos em sinais de trânsito, ilustrando as dificuldades enfrentadas por muitos na região.
Outros vendedores, como José Silva, cearense de 40 anos, também buscaram oportunidades durante o evento. Analfabeto e pai de cinco filhos, José sobrevive de bicos e pequenos comércios, decorando letras de ônibus para se locomover. Seu maior desejo é voltar a estudar, mas as condições financeiras tornam esse sonho distante. Já Carlos Silva, mineiro de 39 anos, vende artesanatos feitos de palha de coco verde, sonhando em concluir o ensino fundamental e ter um lugar próprio para morar. Sua história de superação, após anos em situação de rua, reflete a resiliência de muitos que buscam recomeçar.
O espetáculo, dirigido pelo dramaturgo Preto Rezende, não só reviveu a paixão de Cristo, mas também destacou as histórias de fé e esperança dos presentes. Enquanto alguns pagavam promessas ou rezavam por milagres, outros, como Matheus, José e Carlos, encontraram na tradição religiosa um momento para refletir sobre seus próprios desafios e aspirações. A Via Sacra, assim, tornou-se um símbolo não apenas de devoção, mas também da luta cotidiana por melhores oportunidades.