O relatório anual da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) aponta um crescimento nas recusas familiares para doação de órgãos no Brasil. Em 2024, 46% das famílias com parentes em morte encefálica ou falecidos negaram a autorização, um aumento de 4% em relação ao ano anterior. Apesar da possibilidade de o doador ter manifestado em vida o desejo de doar, sem necessidade de registro formal, muitos familiares, em momento de luto, optam por não permitir a retirada dos órgãos, conforme explica Valter Garcia, do Conselho Consultivo da ABTO.
Histórias como a de Rose, mãe do mecânico Marley de Paula Silva, mostram o impacto positivo da doação. Seus rins e fígado salvaram vidas, mas casos como o dela contrastam com a realidade de milhares de pacientes em filas de espera. Anderson Goulart de Araújo, professor que aguarda um rim há sete meses, destaca a falta de informação como um dos motivos para a baixa adesão. Enquanto isso, apenas 6 mil dos 30 mil pacientes na lista de transplante renal foram atendidos em 2023, segundo Laila Viana, coordenadora de um programa de transplantes.
O motorista de ambulância Ronaldo Roberto da Silva, que já vivenciou ambos os lados da situação, reforça a importância da conscientização. Ele lembra que, por trás da fila de espera, há famílias inteiras dependendo de um gesto de solidariedade. O desafio, segundo especialistas, é combater a desinformação e incentivar diálogos sobre doação de órgãos ainda em vida, para reduzir as recusas em momentos críticos.