O governo paraguaio decidiu suspender indefinidamente as negociações sobre o Anexo C do Tratado de Itaipu após tomar conhecimento de uma operação de inteligência conduzida pelo Brasil contra funcionários do país vizinho. O ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez, recebeu detalhes do embaixador paraguaio no Brasil, Juan Ángel Delgadillo, sobre a ação, que teria como objetivo monitorar as discussões tarifárias da usina hidrelétrica de Itaipu, compartilhada pelos dois países. O Paraguai também convocou o embaixador brasileiro em Assunção para exigir explicações formais sobre o caso.
O governo brasileiro admitiu que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) realizou a operação em 2022, durante a gestão anterior, mas afirmou que a ação foi encerrada em março de 2023 e negou qualquer envolvimento da atual administração. De acordo com investigações, a operação utilizou servidores no Chile e no Panamá para acessar computadores de funcionários paraguaios, obtendo informações sobre suas posições nas negociações. A ferramenta Cobalt Strike teria sido empregada para facilitar o acesso a dados estratégicos.
O Anexo C do Tratado de Itaipu, assinado em 1973, estabelece que o Paraguai venda ao Brasil seu excedente de energia a preços preferenciais. Recentemente, os dois países haviam acordado um aumento tarifário e a flexibilização das regras para permitir que o Paraguai comercialize sua energia livremente no mercado brasileiro. A assinatura do acordo, prevista para 30 de maio, agora está em suspenso até que o Brasil apresente os esclarecimentos solicitados pelo governo paraguaio.