O presidente paraguaio, Santiago Peña, expressou profunda preocupação com as operações de espionagem realizadas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra autoridades de seu país, afirmando que o episódio reabre feridas históricas remanescentes da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870). Peña destacou que o conflito, que devastou o Paraguai e deixou marcas profundas na relação regional, não condiz com os esforços atuais para fortalecer laços de amizade e cooperação no Mercosul. O governo paraguaio já abriu investigações internas e solicitou explicações detalhadas ao Brasil, classificando o caso como um problema de Estado que ultrapassa relações pessoais entre líderes.
O governo brasileiro reconheceu que a operação de inteligência ocorreu durante a gestão anterior, sob o comando do então presidente Jair Bolsonaro, e foi suspensa após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O Itamaraty emitiu nota lamentando o ocorrido e afirmando que não há justificativa para espionar um país aliado. Enquanto isso, o Paraguai adotou medidas diplomáticas firmes, como a convocação do embaixador brasileiro e a suspensão temporária das negociações sobre o Anexo C do Tratado de Itaipu, em revisão após 50 anos.
Além do caso de espionagem, Peña também criticou a falta de apoio do Brasil à candidatura paraguaia para a liderança da Organização dos Estados Americanos (OEA), atribuindo a decisão a motivações ideológicas. O episódio ampliou as tensões entre os dois países, que agora buscam evitar que os desentendimentos prejudiquem uma relação histórica e economicamente estratégica. As autoridades paraguaias continuam monitorando o caso, enquanto o Brasil tenta reparar os danos diplomáticos causados pela revelação das atividades de inteligência.