Organizações sociais e populares da América Latina e do Caribe entregaram uma carta aberta ao governo da França, exigindo compensação pelo pagamento de 150 milhões de francos cobrados do Haiti há 200 anos em troca do reconhecimento de sua independência. As entidades, incluindo a Jubileu Sul/Américas, argumentam que a dívida, que consumiu recursos cruciais do país, perpetuou desigualdades e crises humanitárias. A Anistia Internacional reforçou o apelo, destacando que os efeitos do colonialismo e da escravidão ainda impactam o Haiti, e que a França tem obrigação legal de reparar os danos históricos.
O governo francês reconheceu a injustiça da dívida imposta pelo Rei Carlos X e anunciou a criação de uma comissão para analisar o passado, mas não mencionou indenizações financeiras. Enquanto isso, o Haiti enfrenta uma grave crise, com mais da metade da população em insegurança alimentar e gangues controlando grande parte da capital. Estima-se que, sem a dívida, o país teria acumulado US$ 21 bilhões em sua economia ao longo dos anos.
A independência do Haiti, conquistada em 1804 após uma revolução liderada por ex-escravizados, foi a primeira de uma nação negra no mundo. No entanto, o país só foi reconhecido como soberano em 1825, após aceitar pagar a pesada indenização à França, que levou 122 anos para ser quitada. As organizações signatárias da carta afirmam que esse acordo injusto desviou recursos que poderiam ter sido investidos no desenvolvimento do Haiti, contribuindo para sua atual situação de pobreza e instabilidade.