A adoção de tarifas recíprocas pelos Estados Unidos e a China marcou o início de uma nova era de incertezas econômicas, com impactos que devem se intensificar nos próximos meses. Segundo análise do economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio Leal, os EUA enfrentam risco de estagflação—uma combinação de queda na atividade econômica e inflação elevada—enquanto a China, com seu excedente de produção, pode desencadear uma guerra comercial global ao buscar novos mercados. O Fed, diante desse cenário, pode ser forçado a reduzir juros para evitar crises financeiras, mesmo com pressões inflacionárias.
O Brasil, especialmente o real, deve sentir os efeitos dessa turbulência através da aversão a risco e da possível desaceleração das commodities. Leal destaca que, em momentos de incerteza, moedas de mercados emergentes tendem a se desvalorizar, e a queda nos preços de commodities pode agravar a situação. Além disso, a China, pressionada pela queda no consumo interno e pela crise imobiliária, pode inundar o mercado global com produtos baratos, levando a retaliações de outros países e a uma contração ainda maior do comércio internacional.
O economista também questiona a viabilidade da reindustrialização proposta pelos EUA, argumentando que a economia americana é centrada em serviços, não em manufatura. Ele compara a estratégia a “voltar a produzir CDs em vez de vender música no Spotify.” Enquanto o mundo aguarda os desdobramentos, a paralisia econômica e a falta de clareza sobre as regras comerciais podem prolongar a instabilidade, com efeitos mais concretos só aparecendo a partir do terceiro trimestre.