Em discurso na cúpula da Celac em Honduras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou sobre os riscos de a América Latina e o Caribe voltarem a ser tratados como zona de influência de potências estrangeiras, diante da crescente polarização global. Criticando medidas unilaterais, como as tarifas comerciais impostas por um país não identificado no texto — mas que impactaram a região — e as deportações em massa de imigrantes, Lula defendeu maior integração regional para fortalecer a autonomia econômica e política. Ele destacou que o comércio do Brasil com a Celac já supera o volume com os EUA, sugerindo investimentos em infraestrutura e sistemas de pagamento em moeda local como alternativas.
O presidente propôs reformas no funcionamento da Celac para evitar paralisias decisórias, como a criação de um grupo de trabalho que não dependa apenas de consenso, dado o cenário político fragmentado entre governos de esquerda e direita na região. Lula também enfatizou a necessidade de ações coordenadas em três frentes: defesa da democracia, combate às mudanças climáticas — com maior financiamento dos países ricos — e erradicação da fome e da pobreza. Citou iniciativas como a Aliança Global Contra a Fome, que terá projetos no Haiti e na República Dominicana, e condenou interferências em soberanias nacionais, como desinformação e negacionismo.
Durante o encontro, Lula sugeriu que a Celac apoie uma candidatura única feminina para o cargo de secretária-geral da ONU em 2026, proposta que foi recebida com aplausos, mas enfrenta resistências de governos conservadores. A cúpula definiu que o Uruguai assumirá a presidência rotativa do bloco em 2026, sob um novo governo de esquerda. O discurso reforçou a visão de que a região deve evitar divisões ideológicas e se posicionar coletivamente na nova ordem global, evitando ser relegada a mera área de influência de potências.