Os indígenas krenak, tradicionalmente habitantes das margens do Rio Doce em Minas Gerais, estão buscando na Justiça reparação financeira pelos graves abusos sofridos durante a ditadura militar. O Ministério Público Federal (MPF) ingressou com uma ação civil pública pedindo R$ 10 milhões em reparação coletiva e R$ 50 mil para cada um dos 22 indígenas afetados, incluindo idosos e descendentes de vítimas. Os krenak foram expulsos de suas terras originais em Resplendor (MG) e levados para a aldeia Vanuíre, em São Paulo, após sofrerem torturas, trabalhos forçados e outras violências institucionalizadas.
O caso remonta aos anos 1960 e 1970, quando os krenak foram removidos à força para dar espaço à mineração, sendo confinados em um reformatório que funcionava como centro de violência. Muitos fugiram para a aldeia Vanuíre, onde vivem até hoje, longe de seu território ancestral. Em 2021, a Justiça já havia reconhecido a responsabilidade da União, do Estado de Minas Gerais e da Funai pelas violações, mas a nova ação busca compensação financeira para as vítimas e suas famílias.
Embora valores monetários não possam apagar o trauma histórico, a líder indígena Lidiane Damaceno Krenak destaca que a reparação é um gesto simbólico para ajudar as famílias a seguir em frente. O filósofo Ailton Krenak, membro da Academia Brasileira de Letras, reforça a importância da Justiça reconhecer os danos sofridos pelo povo krenak, incluindo aqueles que já faleceram. O julgamento ainda não tem data marcada, mas o caso reacende o debate sobre a dívida histórica do Estado brasileiro com os povos indígenas.