Quatro meses após um acordo do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) para a construção de dois poços nas aldeias Bororó e Jaguapiru, em Dourados (MS), as comunidades continuam sem acesso adequado à água potável. A promessa de captar 15 mil litros por hora do lençol freático ainda não saiu do papel, deixando mais de 13,4 mil indígenas dependentes de caminhões-pipa e fontes precárias. Famílias relatam ficar até duas semanas sem abastecimento, obrigando-as a buscar água em córregos ou depender da solidariedade de vizinhos.
A situação é especialmente crítica para mães como Samanta e Eliane, que descrevem as dificuldades de manter a higiene básica e enviar os filhos à escola sem água limpa. A rede existente, com 25 anos, não suporta a demanda, e mesmo as caixas d’água distribuídas são insuficientes. Giovane Ricarte, que cresceu sem acesso regular à água, vive o mesmo ciclo: se não armazenar de manhã, à tarde já não tem. A comunidade clama por soluções imediatas, mas as obras dos dutos que ligariam os novos poços à rede ainda não começaram.
O MPI destinou R$ 2 milhões para os poços após protestos em novembro de 2024, quando indígenas bloquearam a MS-156 e houve confrontos com a polícia. O ministério classificou o uso da força como “inadmissível” e prometeu avançar em medidas estruturantes, mas, até o momento, não respondeu sobre os atrasos. Enquanto isso, a resistência continua — um balde de cada vez.