A culinária italiana, frequentemente celebrada como uma tradição centenária, é, na verdade, uma construção recente influenciada pela migração e pela globalização. Alberto Grandi, historiador de alimentos, argumenta que muitos pratos icônicos, como a pizza e o macarrão à carbonara, surgiram ou foram transformados fora da Itália, especialmente nos Estados Unidos. A pizza, por exemplo, era considerada um alimento de pobres em Nápoles no século 19, mas ganhou popularidade global após imigrantes italianos nos EUA adaptarem a receita, usando molho de tomate industrializado. Grandi também contesta a ideia de que queijos e embutidos tradicionais têm histórias milenares, destacando que a maioria das receitas é muito mais recente do que se imagina.
Text: O boom econômico pós-Segunda Guerra Mundial e a ascensão do marketing alimentar desempenharam um papel crucial na formação da identidade culinária italiana. Programas de TV, como o “Carosello”, introduziram novos produtos e hábitos, enquanto pequenas empresas e selos regionais reforçaram o “gastronacionalismo”. Grandi critica a obsessão contemporânea pela “autenticidade”, que levou a debates acalorados sobre receitas, como a proibição de creme de leite no carbonara ou abacaxi na pizza. Para ele, essa rigidez é uma resposta à estagnação econômica e à falta de confiança no futuro, levando os italianos a idealizar um passado culinário que nunca existiu.
Text: As redes sociais amplificaram essa discussão, com perfis que viralizam reações exageradas a adaptações da comida italiana. A chef Aurora Cavallo ressalta que, embora a gastronomia tenha significado profundo para os italianos, a inflexibilidade pode ser contraproducente. Grandi não nega a qualidade da culinária italiana, mas defende que sua história real—cheia de inovações e trocas culturais—é mais interessante do que os mitos perpetuados. A conclusão é clara: a comida italiana, como qualquer outra, está em constante evolução, e sua “pureza” é mais uma invenção do que uma realidade histórica.