O programa nuclear brasileiro, desenvolvido durante a ditadura militar, enfrentou pressões internacionais e desafios internos que impediram seu avanço pleno. Documentos recuperados por pesquisadores mostram que os Estados Unidos pressionaram o Brasil a abandonar parte de seu projeto, inclusive explorando supostas rivalidades com a Argentina. Um episódio emblemático ocorreu em 1977, quando o secretário de Estado americano, Cyrus Vance, deixou acidentalmente uma pasta com estratégias detalhadas para conter o programa nuclear brasileiro, revelando manobras diplomáticas para isolar o país.
Internamente, o programa foi prejudicado por decisões como a priorização de tecnologia estrangeira em vez do desenvolvimento local, o isolamento da comunidade científica e a falta de coordenação com o setor empresarial. O acordo com a Alemanha Ocidental, chamado de “acordo do século”, não cumpriu suas promessas de transferência tecnológica, resultando em apenas uma usina nuclear concluída das oito planejadas. Além disso, a crise econômica dos anos 1980 reduziu os investimentos, e a Constituição de 1988 limitou o uso da energia nuclear a fins pacíficos.
Os pesquisadores argumentam que o Brasil caiu em uma “armadilha de potência média”, na qual as pressões geopolíticas e escolhas internas dificultaram seu avanço tecnológico. Enquanto países como Coreia do Sul e Índia investiram em capacitação local e alcançaram domínio nuclear, o Brasil dependeu excessivamente de parcerias externas frágeis. O estudo conclui que, embora as pressões internacionais tenham sido significativas, foram as decisões domésticas que determinaram o fracasso relativo do programa.