Organizações sociais e populares da América Latina e do Caribe entregaram uma carta aberta ao governo da França, nesta quinta-feira (17), exigindo compensação pela dívida de 150 milhões de francos cobrada do Haiti após sua independência, há 200 anos. As entidades, como a Jubileu Sul/Américas, argumentam que a França deve reconhecer e reparar os danos causados, já que o pagamento da dívida consumiu recursos cruciais para o desenvolvimento do país, agravando sua crise atual. O governo francês reconheceu a injustiça histórica e anunciou a criação de uma comissão para analisar o passado, mas não mencionou indenizações financeiras.
O Haiti, que conquistou sua independência em 1804 após uma revolução de escravizados, foi submetido a um bloqueio econômico por 21 anos até que a França reconhecesse sua soberania em 1825, sob a condição do pagamento da pesada dívida. Especialistas afirmam que esse acordo, firmado sob coerção militar, contribuiu para a pobreza crônica e a instabilidade política do país, que hoje enfrenta uma grave crise humanitária, com mais da metade da população em situação de fome e gangues controlando grande parte da capital. A Anistia Internacional destacou que os efeitos do colonialismo e da escravidão persistem, exigindo reparações sob o direito internacional.
Apesar do reconhecimento do presidente francês sobre o “pesado fardo” imposto ao Haiti, não há sinal de compensação financeira, como demandam as organizações haitianas e caribenhas. A comissão franco-haitiana proposta pelo governo francês visa examinar o passado e propor recomendações, mas críticos argumentam que ações concretas são necessárias para lidar com as consequências duradouras da dívida. Enquanto isso, o Haiti continua lutando contra as desigualdades sociais e econômicas herdadas de dois séculos de exploração neocolonial.