Há 14 anos, Claudevan da Silva Marques chegou a São Paulo e se estabeleceu na Favela do Moinho, última comunidade do centro da cidade. Agora, ele e sua família estão entre as primeiras a deixar o local, após o governo do estado anunciar planos de transformar a área em um parque. A remoção, iniciada nesta terça-feira (22), ocorre sob tensão, com a presença da Polícia Militar, mas também com mediação da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Enquanto aguardam a entrega de um apartamento definitivo, previsto para 2026, a família vive em um alojamento temporário, complementando o auxílio-moradia de R$ 800 com recursos próprios para pagar o aluguel.
Moradores relatam pressão para aceitar as propostas de reassentamento, muitas vezes consideradas insuficientes, especialmente para quem deseja permanecer no centro. A CDHU afirma que oferece alternativas variadas, incluindo auxílio financeiro e imóveis em diferentes regiões, mas famílias como a de Claudevan enfrentam dilemas: opções próximas ao trabalho e tratamento médico da filha são escassas ou inviáveis. Até o momento, 719 das 821 famílias cadastradas iniciaram o processo de adesão voluntária, mas muitas ainda aguardam contratos definitivos.
O projeto do governo estadual depende da cessão do terreno, pertencente à União, para a criação do Parque do Moinho e de um polo de desenvolvimento urbano. O governo federal, no entanto, critica a falta de clareza no plano e pede ajustes, como maior subsídio para famílias de baixa renda. Enquanto as negociações continuam, o vice-governador de São Paulo defende a proposta atual e reforça o compromisso com o reassentamento, iniciado após mais de um ano de preparação. A situação expõe os desafios de conciliar urbanização, direitos habitacionais e segurança pública em uma das áreas mais simbólicas da capital paulista.