Um estudo de 2020, frequentemente citado pela indústria de cigarros eletrônicos, argumentava que o vaping estava substituindo o tabagismo entre jovens na Nova Zelândia. No entanto, uma nova análise publicada em março na Lancet Regional Health-Western Pacific, utilizando os mesmos dados, contradiz essa conclusão. A pesquisa mostrou que, embora as taxas de tabagismo entre adolescentes tenham caído nas últimas décadas, o ritmo de declínio desacelerou significativamente após 2010, coincidindo com o surgimento do vaping. Isso sugere que o uso de cigarros eletrônicos pode estar funcionando como porta de entrada para o tabagismo, e não como substituto.
A análise abrangeu 25 anos de dados, incluindo quase 700.000 estudantes, e utilizou métodos estatísticos robustos para descartar fatores como variações no preço dos cigarros. Os resultados indicam que, em 2023, 12,6% dos jovens de 14 e 15 anos já haviam experimentado cigarro, um número que seria de apenas 6,6% se a tendência pré-vaping tivesse continuado. O estudo de 2020, amplamente utilizado em lobby por empresas do setor, falhou em considerar essas tendências de longo prazo, atribuindo erroneamente a queda no tabagismo ao vaping.
As descobertas reforçam a necessidade de políticas mais rigorosas para regulamentar o acesso aos cigarros eletrônicos, especialmente entre adolescentes. O lobby da indústria, que pressionou governos da Nova Zelândia e da Austrália para afrouxar regulamentações, baseou-se em evidências falhas. A pesquisa alerta para consequências não intencionais do vaping, como o aumento do risco de tabagismo juvenil, e destaca a importância de abordar ambos os problemas de forma integrada.