Uma pesquisa realizada por uma doutoranda da UFRGS analisou dados de mais de 64 mil adolescentes brasileiros e identificou que 83,6% sofrem com jet lag social, um distúrbio crônico do sono causado pelo descompasso entre o relógio biológico e os compromissos sociais, como o horário escolar. Diferente da insônia, o problema não está em não conseguir dormir, mas em sentir sono no horário errado, levando os jovens a compensarem o descanso perdido nos finais de semana. O estudo, publicado no periódico Sleep Health, aponta que o sistema educacional brasileiro, que exige que os alunos acordem cedo, intensifica o problema, e sugere que um atraso de apenas meia hora no início das aulas já melhoraria a qualidade do sono.
Os grupos mais afetados incluem meninas, adolescentes mais velhos (16-17 anos) e alunos de escolas particulares, com taxas de prevalência de até 94,4%. A exposição excessiva a telas, especialmente por mais de seis horas diárias, também foi identificada como um fator de risco significativo, devido ao impacto da luz azul na regulação do ciclo do sono. A pesquisadora alerta que proibir celulares nas escolas pode não ser suficiente, já que os jovens tendem a compensar o tempo restrito usando os dispositivos por mais horas fora do ambiente escolar, e defende políticas educativas para um uso mais consciente da tecnologia.
Além de prejudicar o desempenho escolar e o bem-estar emocional, o jet lag social está associado a riscos cardiovasculares, como obesidade e alterações metabólicas, além de aumentar a propensão a transtornos mentais, como ansiedade e depressão. A pesquisadora defende medidas estruturais, como adiar o início das aulas, campanhas sobre a importância do sono e o incentivo a hábitos saudáveis, destacando que a mudança deve começar no ambiente familiar. Sem ações concretas, o distúrbio pode ter impactos duradouros na saúde pública e na economia, com custos crescentes para o sistema de saúde.