Especialistas em relações internacionais avaliaram que as recentes tarifas anunciadas pelos Estados Unidos partem de um diagnóstico equivocado sobre as causas da perda de competitividade da economia americana. Marcos Troyjo, diplomata e ex-presidente do banco dos Brics, destacou que problemas internos, como a baixa alfabetização funcional e a formação insuficiente de profissionais qualificados, são desafios mais urgentes do que as medidas protecionistas. Ele argumentou que a guerra comercial iniciada no primeiro mandato do presidente não funcionou, dada a interdependência das economias globais, e que os EUA pagarão um preço alto por essa estratégia.
Oliver Stunkel, cientista político e professor da FGV, complementou que a atual administração rejeitou o consenso bipartidário de que a globalização seria a melhor forma de lidar com a ascensão chinesa. Segundo ele, a interdependência econômica poderia reduzir riscos, em vez de confrontá-los diretamente. Stunkel lembrou que, no passado, os EUA optaram pela contenção de potências rivais, mas, após a Guerra Fria, mudaram a abordagem, integrando-as ao sistema internacional. A ruptura com essa estratégia, junto com a revisão do papel militar americano e a preferência por líderes autoritários, marca uma mudança significativa na política externa.
Ambos os especialistas concordam que o retorno ao poder com uma equipe mais alinhada às suas visões permitirá a implementação de medidas antes barradas por assessores mais ortodoxos. As ações atuais, no entanto, podem levar a consequências econômicas e geopolíticas de longo prazo, afetando não apenas os EUA, mas também a estabilidade global.