A premiada escritora francesa Annie Ernaux ganhou destaque no Brasil após a popularização de seus livros, que combinam autobiografia e reflexões feministas. Sua obra mais recente traduzida para o português, “Memória de Menina”, reconta experiências marcantes de sua juventude em 1958, quando deixou a casa dos pais para trabalhar em uma colônia de férias na Normandia. O livro aborda temas como a iniciação sexual traumática, as pressões sociais da época e o despertar de sua consciência feminista, tudo narrado com um rigor literário que mistura prosa sociológica e introspecção.
Ernaux explora como esses eventos a assombraram por décadas, influenciando sua identidade como escritora e intelectual. A obra revela a complexidade de suas emoções, desde a sensação de liberdade até o peso do julgamento masculino, que a levou a ser estigmatizada. A autora também reflete sobre o impacto de ler “O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir, que a ajudou a entender a dimensão política de suas vivências pessoais.
Ao receber o Nobel de Literatura em 2022, Ernaux afirmou que escrever é uma forma de “vingança íntima”, permitindo-lhe confrontar suas origens humildes e as injustiças que sofreu como mulher. “Memória de Menina” não apenas reconstitui um período crucial de sua vida, mas também resgata o contexto social da França nos anos 1950, mostrando como o passado continua a moldar o presente. A obra consolida seu lugar como uma das vozes mais importantes da literatura contemporânea, unindo história individual e crítica social.