A decisão do ex-presidente Donald Trump de impor tarifas elevadas a parceiros comerciais dos EUA baseou-se em sua preocupação com o déficit comercial bilateral, que ele via como sinal de práticas desleais. No entanto, economistas argumentam que essa métrica é enganosa, já que os déficits bilaterais surgem por diversos fatores, como fluxos logísticos e especialização produtiva, e não necessariamente refletem injustiças. Por exemplo, países como Holanda e Cingapura aparecem com superávits comerciais com os EUA simplesmente por servirem como hubs de redistribuição, sem que isso indique vantagem comercial.
Além disso, a fórmula simplista usada para calcular as tarifas ignora diferenças estratégicas entre produtos e não considera o comércio de serviços, setor vital para a economia americana. Especialistas apontam que a abordagem pode prejudicar aliados e até nações pobres, como Lesoto, sem resolver o déficit global. A justificativa de que os déficits bilaterais representam uma “emergência nacional” é contestada, pois muitos economistas veem o desequilíbrio comercial total como resultado de fatores macroeconômicos, como investimentos e gastos governamentais, e não apenas de trocas injustas.
Embora alguns concordem que o déficit comercial geral dos EUA possa refletir excessiva dependência de manufatura estrangeira, a maioria critica as tarifas por não atacarem as causas reais do problema, como subsídios industriais em outros países. Para Michael Pettis, da Universidade de Pequim, a solução exigiria ajustes estruturais nas economias superavitárias, como China e Alemanha, e não medidas unilaterais. Outros destacam que reduzir o déficit via tarifas pode enfraquecer a economia americana, minando a confiança no dólar. Como resumiu Dani Rodrik, de Harvard, “não há relação entre déficit comercial e desempenho econômico”—um alerta contra políticas baseadas em métricas equivocadas.