Pesquisadores brasileiros analisaram documentos históricos e entrevistas para entender por que o programa nuclear do Brasil não avançou como em outros países de porte similar, como Coreia do Sul e Índia. Entre os achados, destaca-se uma pasta deixada acidentalmente pelo secretário de Estado americano Cyrus Vance durante uma reunião com o presidente Ernesto Geisel em 1977. Os documentos revelavam a estratégia dos EUA para pressionar o Brasil a abandonar parte de seu programa nuclear, incluindo a exploração de supostas rivalidades com a Argentina e a pressão sobre aliados europeus para bloquear transferências de tecnologia.
O estudo aponta que, além das pressões externas, fatores internos contribuíram para o fracasso relativo do programa. A falta de integração entre os burocratas militares responsáveis pelo projeto e a comunidade científica nacional, somada à opção por adquirir tecnologia estrangeira em vez de desenvolvê-la localmente, limitou o avanço. O acordo com a Alemanha Ocidental, chamado de “acordo do século”, resultou em apenas uma usina nuclear concluída (Angra 2), em vez das oito planejadas, devido ao recuo alemão sob pressão americana.
Os pesquisadores argumentam que o Brasil caiu em uma “armadilha de potência média”, na qual países emergentes são contidos por potências estabelecidas. No entanto, destacam que o resultado não era inevitável, citando casos como o da Índia, que superou obstáculos semelhantes. O estudo conclui que, apesar das ambições iniciais, o programa nuclear brasileiro foi prejudicado por uma combinação de pressões geopolíticas, escolhas estratégicas equivocadas e falta de investimento em capacitação local.