Quando a primeira temporada de “The White Lotus” estreou em 2021, o criador Mike White surpreendeu ao explorar de forma política e afiada os temas da ganância e da infelicidade disfarçada pela riqueza. A série, que inicialmente parecia um mistério envolto em cenários luxuosos e praias paradisíacas, revelou-se uma crítica mordaz aos excessos e às relações tóxicas entre personagens absurdamente ricos e aqueles que os servem. O artifício narrativo de começar com uma morte anunciada capturou a atenção do público, mas foi a exposição das vazias existências dos personagens que deixou a marca mais duradoura.
Aos poucos, a narrativa mostrou como a ostentação e os “problemas de gente rica” escondiam uma profunda infelicidade e crueldade entre os personagens. A série, que poderia ser confundida com um simples “pornô de riqueza” — termo popularizado após o sucesso de “Big Little Lies” —, acabou por desconstruir o fascínio pelo luxo, revelando o vazio por trás daquelas vidas aparentemente perfeitas. A abordagem de White foi tão eficaz que ele mesmo admitiu desejar ter usado esse recurso em trabalhos anteriores.
Com um tom ácido e visual deslumbrante, “The White Lotus” tornou-se muito mais que um entretenimento: foi um espelho da desigualdade e da desconexão humana em meio ao privilégio. A série não apenas entreteve, mas também provocou reflexões sobre o custo moral e emocional da riqueza excessiva, solidificando-se como uma das produções mais inteligentes e incisivas dos últimos anos.