O avanço das mudanças climáticas e o aumento de eventos extremos têm pressionado a indústria global de seguros, especialmente na América Latina, onde a baixa penetração de seguros amplia a lacuna de proteção. Kaspar Mueller, CEO da Swiss Re para a região, destaca que riscos secundários, como enchentes e incêndios florestais, estão se tornando mais frequentes no Brasil, com casos emblemáticos em Petrópolis e Rio Grande do Sul. O impacto financeiro dessas catástrofes tem superado US$ 100 bilhões anuais globalmente, exigindo ajustes na precificação e na estrutura de capital das resseguradoras para manter a sustentabilidade do setor.
No Brasil, a penetração de seguros ainda é baixa, com apenas 30% da frota automotiva e 17% das residências seguradas. Mueller aponta que a resistência cultural e econômica, somada à falta de exigências por parte de instituições financeiras, contribui para o chamado “protection gap”. No desastre do Rio Grande do Sul em 2024, por exemplo, apenas R$ 6 bilhões das perdas totais de R$ 89 bilhões estavam cobertos por seguros, revelando uma lacuna de 93%. A ausência de políticas públicas estruturadas também dificulta a criação de soluções eficientes, como parcerias público-privadas para proteger ativos essenciais.
O executivo enfatiza a necessidade de modelos preditivos mais robustos e de investimentos em resiliência climática, destacando o potencial do Brasil como mercado prioritário. Apesar dos desafios, ele acredita que o país pode avançar na proteção contra riscos climáticos, desde que haja maior conscientização e colaboração entre setores. O cenário político e regulatório, no entanto, continua sendo um fator crítico para o desenvolvimento do mercado de seguros na região.