Um estudo publicado na revista The Lancet revela que os eventos climáticos são os principais responsáveis pelo aumento explosivo de casos de febre oropouche na América Latina, incluindo o Brasil. A doença, antes considerada endêmica da Amazônia, expandiu-se para outras regiões, com casos registrados em diversos estados desde 2023. Em 2024, houve um salto para 13.721 infecções confirmadas, contra 833 no ano anterior, com pelo menos quatro mortes. O vírus, transmitido pelo mosquito maruim, causa sintomas semelhantes aos da dengue, como febre, dor muscular e dor de cabeça intensa, o que pode levar a diagnósticos equivocados.
A pesquisa analisou mais de 9,4 mil amostras de sangue e identificou anticorpos contra o vírus em 6,3% dos casos, com taxas de até 10% na Amazônia. Os modelos espaciais indicaram que mudanças nos padrões de temperatura e chuva influenciaram 60% da disseminação da doença, sugerindo que fenômenos como o El Niño tenham impulsionado o surto a partir de 2023. Além disso, o estudo alerta para a subnotificação da febre oropouche, já que muitos casos podem ter sido confundidos com dengue devido à semelhança de sintomas.
As regiões costeiras do Brasil, do Espírito Santo ao Rio Grande do Norte, além de áreas que vão de Minas Gerais ao Mato Grosso e toda a Amazônia, são consideradas de alto risco para a transmissão do vírus. Os pesquisadores recomendam maior vigilância nessas localidades, priorização de testes diagnósticos específicos e adaptação de estratégias de controle vetorial, incluindo medidas contra o maruim. O estudo também destaca a necessidade de mais pesquisas e do desenvolvimento de uma vacina para conter futuros surtos em larga escala.