Empresários no Brasil têm reclamado da dificuldade em contratar funcionários em um mercado de trabalho aquecido, com alguns atribuindo o problema ao programa Bolsa Família. Um estudo premiado da London School of Economics mostra que, em 2014, o benefício aumentou a probabilidade de mães com filhos pequenos conseguirem empregos formais, ao ajudar a cobrir custos como educação e transporte. No entanto, análises mais recentes do Banco Central e da FGV apontam que a expansão do programa, com valores mais altos e mais beneficiários, coincidiu com uma queda na taxa de participação no mercado de trabalho, especialmente entre mulheres e jovens, que passaram a priorizar estudos ou cuidados familiares.
Pesquisadores destacam que, embora haja menos pessoas buscando emprego, o número de beneficiários do Bolsa Família com carteira assinada aumentou. Isso sugere que o programa não desincentiva o trabalho, mas pode estar elevando os padrões de exigência dos trabalhadores, que agora recusam condições precárias. O mecanismo de proteção, que permite manter metade do benefício por até dois anos após conseguir um emprego formal, tem sido um incentivo, mas especialistas apontam falhas, como a demora no restabelecimento do valor integral em casos de demissão.
O debate revela contradições: enquanto o Bolsa Família ajuda a reduzir a pobreza e impulsiona o consumo, também pressiona setores como serviços a aumentar salários para atrair mão de obra. Histórias de beneficiários que voltaram ao mercado formal mostram que o programa pode ser um trampolim, não um obstáculo. O governo planeja ajustes na regra de proteção, buscando equilibrar apoio social e estímulo ao emprego, em um cenário onde a renda básica se tornou uma ferramenta crucial para milhões de famílias.