O Cerrado, berço das águas e habitat de 41 espécies de beija-flores, enfrenta riscos crescentes devido ao desmatamento e às mudanças climáticas. O biólogo e fotógrafo Marcelo Kuhlmann dedicou uma década à pesquisa do bioma, resultando em um livro de 750 páginas que documenta a relação entre as aves e as flores nativas. A obra, organizada de forma didática, destaca a importância da biodiversidade e alerta para o impacto da agropecuária não sustentável, que já consumiu mais da metade da vegetação nativa em 70 anos.
As mudanças climáticas também ameaçam o equilíbrio ecológico, alterando os períodos de floração e afetando a disponibilidade de alimentos para os beija-flores. Kuhlmann explica que essas aves, com visão aguçada e capacidade de enxergar ultravioleta, são polinizadores essenciais, junto com abelhas, borboletas e morcegos. Cerca de 80% a 90% das espécies nativas dependem de animais para polinização, e pelo menos 100 plantas registradas no livro têm os beija-flores como principais aliados.
Apesar da imagem equivocada de um Cerrado “cinza”, o bioma ainda abriga uma riqueza de cores e vida, embora menos vibrante que no passado. Kuhlmann enfatiza a necessidade de conservação, já que a perda do Cerrado pode levar a um déficit hídrico no país. O livro busca dar visibilidade à biodiversidade, reforçando que a preservação só é possível através do conhecimento. Como ele destaca, “quanto mais beijos, mais as flores se abrem e o Cerrado se ilumina”.