O Transtorno do Espectro Autista (TEA) acompanha indivíduos por toda a vida, mas as discussões e políticas públicas permanecem focadas quase exclusivamente na infância. Com 94% dos serviços especializados interrompendo o atendimento na maioridade, adultos autistas enfrentam um apagão de apoio, refletido em altas taxas de desemprego (85%) e dificuldades no acesso à saúde mental. Muitos, diagnosticados tardiamente, carregam traços de anos de estigmatização, enquanto práticas como o masking — esconder características autísticas para se adequar socialmente — elevam riscos de exaustão e depressão.
O sistema de saúde brasileiro mostra-se despreparado para atender adultos com TEA, faltando protocolos específicos, equipes multidisciplinares e profissionais capacitados. No mercado de trabalho, mesmo com leis como a de Cotas (8.213/1991) e a Berenice Piana (12.764/2012), há descumprimento generalizado: 83% das demissões de autistas violam direitos, e adaptações simples, como ambientes menos ruidosos, são ignoradas. O serviço público também falha, negando inscrições em concursos e reduzindo jornadas previstas em lei.
Para mudar esse cenário, são necessárias políticas de continuidade que garantam suporte vitalício, capacitação da rede de saúde, fiscalização efetiva das leis trabalhistas e campanhas de conscientização. Adaptações razoáveis em ambientes de trabalho e estudo, como horários flexíveis e comunicação clara, são essenciais. A inclusão real exige que autistas adultos tenham voz em conselhos de políticas públicas e que direitos formais se tornem realidade, evitando o isolamento e promovendo uma sociedade verdadeiramente inclusiva.