Mulheres integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) estão usando a técnica das arpilleras – bordados políticos originários do Chile – para denunciar violações de direitos humanos e socioambientais no Brasil. Reunidas em oficinas coletivas, elas transformam suas histórias de luta em peças têxteis, abordando temas como rompimentos de barragens, desmatamento, violência de gênero e os efeitos da pandemia. A exposição no Museu de Arte de São Paulo (Masp) reúne 34 dessas obras, que também são acompanhadas por cartas escritas pelas próprias mulheres, ampliando o alcance de suas denúncias.
A técnica, que ganhou força durante a ditadura chilena nos anos 1970, foi adaptada pelo MAB em 2013 como ferramenta de educação popular e resistência coletiva. Diferente do Chile, onde as peças eram feitas individualmente, no Brasil elas são produzidas em grupo, reforçando a ideia de luta compartilhada. Cada arpillera demora dias para ser concluída e surge de debates sobre temas como energia, moradia e mudanças climáticas, criando um espaço seguro para o diálogo entre as mulheres atingidas.
A mostra no Masp não apenas exibe as obras, mas também convida o público a participar de uma oficina no dia 27 de abril, aproximando os visitantes da realidade dessas mulheres. As arpilleras vão além da arte: são registros têxteis de um contexto social marcado por deslocamentos, perdas e resistência. Com entrada gratuita às terças e sextas à noite, a exposição reforça a importância de dar voz a quem é frequentemente silenciado pelo modelo energético e pelas estruturas de poder.