O apagão que atingiu Portugal e Espanha na segunda-feira (28/04) destacou as particularidades do sistema elétrico da Península Ibérica, que funciona como uma “ilha energética” devido à baixa conexão com o resto da Europa. Com uma taxa de interconexão de apenas 2%, abaixo dos 10% recomendados pela União Europeia, os dois países enfrentam dificuldades em importar energia em momentos de crise, como no recente colapso. No entanto, essa autonomia também trouxe benefícios, como a capacidade de limitar preços do gás durante a crise energética pós-guerra na Ucrânia e um sistema interno integrado e resiliente, com forte participação de fontes renováveis.
Apesar das vantagens, o isolamento elétrico da Península Ibérica se mostrou um ponto crítico durante o apagão, quando as interconexões com a França foram automaticamente cortadas, deixando Espanha e Portugal dependentes de seus próprios recursos para restaurar o fornecimento. Além disso, a intermitência das energias renováveis e a lentidão nos projetos de ampliação das ligações com a Europa, como as linhas pelos Pireneus, aumentam a vulnerabilidade do sistema. Especialistas defendem investimentos em armazenamento, baterias e redes inteligentes para melhorar a gestão do excedente de energia limpa, que hoje é desperdiçado.
Olhando para o futuro, a Península Ibérica tem potencial para se tornar um exportador de energia renovável, mas isso depende do aumento da capacidade de interconexão com o continente europeu. Enquanto isso, a coordenação entre Espanha e Portugal por meio do Mercado Ibérico de Eletricidade (MIBEL) continua sendo um modelo eficiente para otimizar recursos e preços. O desafio, agora, é equilibrar a autossuficiência com a integração regional, tornando o sistema mais seguro e sustentável.