Fabio Kanczuk, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, alerta que o Banco Central do Brasil (BC) deveria primeiro ancorar as expectativas de inflação de longo prazo antes de considerar uma redução no ritmo de aumentos da taxa de juros. De acordo com ele, as expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2026 e 2027 estão bem acima da meta estabelecida, o que compromete a estabilidade econômica. Kanczuk defende que, embora o BC possa sinalizar uma desaceleração no ritmo de aumentos, a prioridade deveria ser restaurar as expectativas de inflação, especialmente no médio e longo prazos.
Kanczuk também questiona o modelo atual do BC para estimar a taxa neutra de juros, que, segundo ele, está subestimando o impacto da política fiscal. Ele argumenta que a taxa neutra, que deveria equilibrar a economia, na realidade está muito mais alta do que a indicada pelos cálculos do BC. Para o economista, isso ajuda a explicar o ritmo contínuo de crescimento econômico, mesmo em um cenário de juros elevados. Além disso, Kanczuk destaca que, ao não considerar o peso da política fiscal, o BC pode estar levando a uma avaliação distorcida da verdadeira necessidade de ajustes nas taxas de juros.
Sobre a atual postura do Banco Central, Kanczuk acredita que, embora o foco deva ser a ancoragem das expectativas de inflação, a gestão atual não tem dado a devida importância a esse aspecto. Ele sugere que, para corrigir a desancoragem das expectativas iniciada em 2022, o BC deveria adotar uma postura mais firme, deixando claro que está disposto a tomar medidas mais drásticas, se necessário, para restaurar a credibilidade da política monetária. Para o ex-diretor, isso é essencial para evitar um aumento contínuo da incerteza econômica e garantir uma recuperação sustentável da economia no futuro.