O desfile da Dior, que abriu a semana de moda de Paris, trouxe uma coleção marcada por referências literárias e históricas, sob a direção criativa de Maria Grazia Chiuri. Em uma proposta que mescla tradição e inovação, a estilista fez alusão à escritora inglesa Virginia Woolf, refletindo sobre a liberdade na moda e os estereótipos de gênero. A camisa branca, uma das peças-chave da coleção, se tornou um manifesto de liberdade, indo além de um simples item de vestuário. A escritora, que tinha uma relação complexa com as normas de vestuário de sua época, foi um dos pilares para o desenvolvimento da coleção, que também abordou a transgressão de barreiras de gênero.
A coleção se inspira ainda em outra obra de Woolf, “Orlando”, um romance que explora a fluidez de gênero. As referências ao guarda-roupa masculino estiveram presentes, com casacos estruturados, fraques e silhuetas que dialogam com o estilo tradicional, mas também com toques de feminilidade. A curadora Rosalind McKever, do Victoria & Albert Museum, comenta como as mulheres, no contexto da época, passaram a adotar roupas masculinas, o que influenciou as propostas de Chiuri. No desfile, as camisas com babados e golas de rufo contrastavam com a rigidez das peças masculinas, criando uma fusão interessante entre o masculino e o feminino.
Maria Grazia Chiuri também fez referências ao legado da Dior, em especial à influência de Gianfranco Ferré e John Galliano. A coleção trouxe de volta elementos icônicos da maison, como a famosa camiseta J’Adore Dior. A novidade ficou por conta das peças utilitárias, como casacos em verde militar e bermudas de couro, além de vestidos com rendas e botas de estilo coturno, que marcaram presença na passarela. A coleção, ao mesmo tempo que revisita o passado, projeta uma visão contemporânea e de liberdade para o futuro da moda.