Rosa Caldeira, cineasta transgênero, analisou “Emilia Pérez” em profundidade, destacando tanto as críticas ao filme quanto a importância da repercussão que ele gera para a comunidade trans. Embora reconheça que a presença de uma atriz trans protagonista seja uma conquista, Caldeira acredita que a obra retrata de forma ultrapassada a transição de gênero, ao focar excessivamente na medicalização e nas mudanças físicas, em detrimento dos aspectos sociais e emocionais. Para o cineasta, a falta de nuances na personagem é um reflexo de um estereótipo que não contribui para o debate real sobre identidade de gênero.
Caldeira também critica a abordagem do filme sobre as questões trans e destaca que a verdadeira representatividade se dá quando pessoas trans ocupam não apenas os papéis na frente das câmeras, mas também as funções de direção e produção. Ele salienta que, embora filmes com temáticas trans tenham sido premiados no Oscar, a indústria ainda carece de maior participação de cineastas trans no processo criativo. Para ele, a inclusão genuína vai além da presença de atores trans e envolve uma mudança estrutural dentro da produção cinematográfica.
O cineasta, que também trabalha com narrativas sobre a vivência trans, defende a ideia de que a arte pode ser uma ferramenta poderosa para avançar nas discussões sobre identidade de gênero. No entanto, ele enfatiza que para reduzir a marginalização da comunidade trans e melhorar suas condições de vida, é essencial que mais profissionais trans sejam integrados ao cinema, trazendo suas próprias histórias e perspectivas. Caldeira acredita que a representatividade real só será alcançada quando as vozes autênticas da comunidade estiverem no centro das produções audiovisuais.