Ernest Cole foi um fotógrafo sul-africano que usou sua arte para retratar a dura realidade do apartheid, desempenhando um papel importante na sensibilização do público internacional sobre a opressão vivida pelos negros na África do Sul. Seus poderosos registros ajudaram a fortalecer a pressão política contra o regime, especialmente nos Estados Unidos e no Ocidente, onde seu trabalho, “House of Bondage”, foi publicado. No entanto, a vida de Cole foi marcada por um exílio amargo, longe de sua pátria, e sua morte prematura em 1990, devido a um câncer pancreático, foi um reflexo de uma luta interna mais profunda com a solidão e a saudade de sua terra natal.
Após deixar a África do Sul, Cole passou a maior parte de sua vida nos Estados Unidos, onde seu trabalho continuou a ser reconhecido, mas também enfrentou um dilema artístico e emocional. Enquanto as instituições e patrocinadores esperavam que ele produzisse mais imagens de resistência e denúncia do racismo, ele buscava se distanciar dessa etiqueta e evitar ser visto apenas como um fotógrafo engajado na luta racial. No entanto, essa resistência a um trabalho mais explícito de ativismo o fez entrar em conflito com os patrocinadores e com outros ativistas, que o viam como alguém que abandonou a linha de frente da luta contra o apartheid em favor de uma vida de celebridade e conforto.
A obra de Cole e sua trajetória de exílio são exploradas no documentário do cineasta haitiano Raoul Peck, que traz à tona não só o impacto do apartheid sobre a vida e a arte do fotógrafo, mas também as complexas questões de identidade e pertencimento que ele enfrentou enquanto vivia em uma constante tensão entre sua origem sul-africana e sua vida nos Estados Unidos. O trabalho de Cole, ao mesmo tempo em que é um testemunho da luta contra a segregação racial, também é uma reflexão sobre o preço do exílio e da alienação, questões que ele não conseguiu resolver antes de sua morte.