O samba-enredo “É Hoje”, interpretado pela União da Ilha do Governador no Carnaval de 1982, tornou-se um dos mais executados no Brasil nas últimas décadas. Composto inicialmente por Didi e Mestrinho, a obra foi regravada por diversos artistas como Caetano Veloso, Fernanda Abreu e Diogo Nogueira. No entanto, em 2024, uma disputa judicial surgiu quando Almir Juliasse de Souza, conhecido como Almir da Ilha, entrou com um processo afirmando ser também autor da música, reivindicando sua inclusão como parceiro na obra. Ele alega ter contribuído com a letra junto aos outros dois compositores, embora tenha sido impedido de assinar oficialmente por questões internas da escola de samba na época.
A ação judicial envolve, além do pedido de reconhecimento de autoria, a redistribuição dos direitos autorais da música. O Ecad, responsável pela arrecadação e distribuição de direitos autorais, indicou que os valores relacionados a “É Hoje” têm sido pagos conforme os titulares registrados, mas a inclusão de Almir pode alterar essa divisão. Apesar de apresentarem provas testemunhais, a falta de registros diretos da composição em conjunto dificulta a resolução do caso. A disputa destaca a questão da memória e a documentação da criação de sambas-enredo, uma prática comum no cenário do carnaval, onde muitas vezes a autoria é compartilhada, mas nem sempre reconhecida formalmente.
Além da disputa pela autoria, o caso também revela a situação de uma herança esquecida de Mestrinho, que, segundo o Ecad, acumula valores que podem chegar a R$ 300 mil, mas não têm sido resgatados por seus herdeiros. A família de Mestrinho está dispersa, e não há informações claras sobre os responsáveis pelos direitos autorais do compositor, o que tem gerado incertezas quanto à distribuição desse montante. O desaparecimento de Mestrinho, ocorrido nas décadas de 1990, e a falta de registros oficiais complicam ainda mais a situação, deixando uma questão sem resolução clara para os direitos autorais relacionados à sua música.