A ópera “Morgiane”, composta por Edmond Dédé, foi recentemente apresentada pela primeira vez em mais de 100 anos, após ser considerada perdida. A obra, que se destaca por ser a mais antiga ópera completa conhecida criada por um compositor negro norte-americano, foi descoberta nos arquivos da Universidade de Harvard. Dédé, que nasceu em Nova Orleans em 1827, viveu em uma época marcada pela presença da ópera na cidade antes do surgimento do jazz. Durante sua carreira, ele se destacou na França, onde escreveu e regeu no prestigiado Grand Théâtre de Bordeaux, além de ser um abolicionista ativo.
A ópera cômica “Morgiane”, que narra a história de uma jovem sequestrada e forçada a um noivado com um sultão, teve sua estreia realizada em diversos locais dos Estados Unidos, incluindo Washington, D.C., Maryland e Nova York. O processo para reviver a obra envolveu uma adaptação meticulosa da partitura original do século XIX, com a transcrição das notas musicais e do libreto para notações modernas. A pandemia de Covid-19 foi um marco para o reencontro entre pesquisadores e músicos, que dedicaram anos ao resgate e preparação da apresentação.
Além de trazer à tona uma parte esquecida da história da música clássica, a estreia de “Morgiane” também carrega um significado cultural e histórico profundo. A performance assume uma relevância ainda maior em um momento de crescente debate sobre diversidade e inclusão, lembrando o legado de Dédé e sua contribuição vital para a música. A apresentação é vista como uma oportunidade de reconhecer e celebrar a influência dos compositores negros na história da música clássica, ao mesmo tempo em que reflete sobre o apagamento cultural e histórico vivido ao longo dos anos.