O professor Daniel Vargas, especialista em economia e direito da FGV, acredita que a pecuária pode ser vista como uma solução para o aquecimento global, contrariando sua imagem atual como vilã na emissão de gases poluentes. Essa perspectiva está ganhando força graças aos estudos do professor Myles Allen, da Universidade de Oxford, que propõem uma nova forma de calcular o impacto do metano, um gás de efeito estufa de curta duração, no aquecimento global. O metano, liberado durante a digestão do gado, possui um ciclo curto e, após 10 a 12 anos, se quebra na atmosfera em CO2 e água, diferentemente do CO2, que permanece na atmosfera por mais de cem anos.
Vargas destaca que a pecuária brasileira, que depende da recuperação e qualidade do pasto, pode ter um papel positivo na redução das emissões de gases de efeito estufa. A recuperação do pasto permite que as plantas capturem mais CO2 da atmosfera, além de encurtar o ciclo de produção do gado. Com a utilização de cálculos mais precisos sobre as emissões de metano, a pecuária poderia se tornar um agente de solução, em vez de um vilão, na luta contra o aquecimento global, contribuindo significativamente para as metas climáticas globais.
A COP 30, programada para ocorrer em 2025 no Brasil, discutirá essas novas abordagens, incluindo a necessidade de adaptar as métricas de emissões às realidades dos países em desenvolvimento, como o Brasil. Vargas defende que o mercado de carbono, em vez de ser apenas um mecanismo de imposição de custos, tem o potencial de financiar práticas sustentáveis e gerar novos investimentos produtivos. A regulamentação do mercado de emissões no Brasil, com a criação do Sistema Brasileiro do Comércio de Emissões (SBCE), já é um passo importante nessa direção.