Nos anos 1970, quando meus pais construíram a casa onde ainda vivo, o terreno era uma antiga pastagem de gado, coberto por gramíneas e mato. Antes mesmo de iniciar a obra da casa, meus pais começaram a plantar árvores, e o que era inicialmente um espaço simples e sem árvores foi transformado, ao longo de 47 anos, em uma verdadeira floresta. Esse processo de crescimento e transformação levou a uma mudança no modo como chamávamos o espaço: inicialmente, era o “jardim”, um local cultivado e cuidado por nós, mas, com o tempo, passou a ser denominado “floresta”, refletindo seu caráter mais selvagem e autossustentável.
O espaço natural ao redor da casa passou a ser visto como um ecossistema gerido de forma mínima, mas não completamente controlado. Embora o espaço fosse ocasionalmente cuidado por nós, como no caso de cortar galhos ou limpar o terreno, o objetivo nunca foi interferir excessivamente na natureza. A floresta seguiu seu curso, e a convivência com ela se tornou mais sobre convivência do que sobre domínio ou controle.
Ao longo dos anos, a floresta se tornou parte integral da minha vida, um espaço de convivência e também de desafios, como quando um galho cresce tanto a ponto de bloquear o acesso à casa. No entanto, apesar da necessidade de manutenção pontual, a transformação de um pasto em uma floresta autossustentável é uma história que ilustra como a natureza pode se recuperar e se expandir quando dada a oportunidade, mudando não só o ambiente físico, mas também o entendimento sobre o que significa cuidar de um espaço.