O texto de Helder D’Araújo propõe uma leitura do conto “William Wilson”, de Edgar Allan Poe, sob a ótica do filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, em vez de usar a análise psicanalítica tradicional. O autor explora como o conceito de determinismo e o embate entre o estético, ético e religioso na filosofia de Kierkegaard podem lançar novas luzes sobre a história, particularmente a dualidade do protagonista e o confronto com seu “duplo”. D’Araújo sugere que o personagem principal enfrenta uma jornada de autoconhecimento e auto-sacrifício, onde a angústia e a reflexão sobre seu próprio destino são elementos centrais.
O conto é analisado com foco na luta interna do herói, que vive em uma constante tensão entre sua natureza estética, caracterizada pela busca do prazer imediato e da liberdade sem limites, e sua consciência ética, representada pela figura de seu duplo, W.W., que o persegue ao longo da narrativa. Essa relação simboliza o confronto entre o “velho eu” e o “novo eu”, tema recorrente na obra de Kierkegaard e que é explorado ao longo de todo o conto, destacando as crises existenciais e a busca pela redenção do protagonista.
Ao final, D’Araújo compara a jornada de William Wilson com a do “salto de fé” proposto por Kierkegaard, sugerindo que o personagem realiza um sacrifício de si mesmo ao matar seu duplo, mas acaba por destruir sua própria alma. A reflexão sobre a natureza humana, o pecado e o arrependimento é aprofundada, trazendo à tona um estudo filosófico sobre a angústia e a redenção. O autor conclui que a história de Poe pode ser vista como uma alegoria existencial, onde o auto-sacrifício e o confronto com a própria consciência representam um caminho de transformação interna.