Em 1973, Brasil e Paraguai firmaram um acordo para a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, situada na fronteira dos dois países, com o objetivo de gerar energia suficiente para atender às crescentes necessidades do Brasil. A usina, uma das maiores do mundo, foi projetada para ser dividida igualmente entre os dois países, com o Brasil consumindo toda a sua cota e o Paraguai inicialmente não utilizando grande parte da sua. O tratado previa uma revisão da tarifa paga pelo Brasil em 2023, após cinquenta anos de sua assinatura, e, nesse contexto, os desafios e negociações políticas em torno da energia gerada por Itaipu se tornaram um ponto central das relações entre os dois países.
No entanto, a política interna do Paraguai gerou novos complicadores para o acordo. O presidente paraguaio, após uma carreira religiosa marcada por sua proximidade com movimentos de esquerda, usou a revisão das tarifas de Itaipu como uma de suas principais bandeiras eleitorais. Embora inicialmente não consumisse a energia que lhe era destinada, o Paraguai passou a exigir mais da produção de Itaipu, o que levou a um aumento significativo nos pagamentos do Brasil, com o objetivo de fortalecer o governo paraguaio e sua política interna. Essa situação gerou críticas e questionamentos sobre os impactos econômicos para o Brasil, que enfrentaria aumentos nas tarifas de energia para seus consumidores.
Em 2011, uma série de negociações resultou em um aumento substancial nas tarifas de energia que o Brasil pagava ao Paraguai, com o apoio do governo brasileiro na tentativa de estabilizar o governo paraguaio. O acordo teve ampla aprovação no Congresso Nacional, mas gerou forte oposição de alguns setores. A medida, que visava manter o presidente paraguaio no poder, resultou em um custo significativo para o Brasil, gerando um prejuízo de mais de 3 bilhões de dólares até hoje. A revisão do tratado de Itaipu em 2023, conforme o previsto, trouxe novamente à tona os debates sobre o impacto econômico e as responsabilidades políticas no uso da energia gerada pela usina.