O documentário “All I Had Was Nothingness”, do diretor francês Guillaume Ribot, mergulha nos bastidores da produção de “Shoah” (1985), a aclamada obra de Claude Lanzmann sobre o Holocausto. Quarenta anos após seu lançamento, “Shoah” continua sendo considerado um dos maiores documentários da história do cinema, abordando de maneira única um trauma recente que ainda estava presente na memória coletiva. No entanto, Ribot traz à tona como a obra-prima de Lanzmann quase não foi concluída, revelando os desafios enfrentados na produção do filme.
Para a criação de seu documentário, Ribot revisitou as 220 horas de material bruto filmado por Lanzmann entre 1976 e 1981, que mais tarde seriam editadas para compor a versão final de 9 horas e meia. O processo de edição do filme original foi revelador, com Ribot mostrando cenas não vistas antes que expõem a vulnerabilidade e as inseguranças do cineasta. Esses momentos contrastam com a imensa persistência e dedicação que Lanzmann demonstrou ao longo da filmagem, iluminando aspectos pouco conhecidos de sua jornada de criação.
O filme de Ribot também coloca em discussão os limites da ética jornalística, mostrando como, para revelar a verdade em sua forma mais crua, às vezes é necessário transgredir certas normas. “All I Had Was Nothingness” oferece uma reflexão profunda sobre o poder da documentação histórica e os sacrifícios pessoais envolvidos na criação de uma obra tão importante, sem deixar de destacar as complexidades enfrentadas por Lanzmann durante a realização de seu filme essencial.