Fazer cinema no Brasil é um desafio, especialmente para quem vem da periferia, onde as dificuldades financeiras e estruturais são ainda mais evidentes. Zara Marsala, cineasta e ativista, não se deixou abater por esses obstáculos. Com uma câmera simples e um compromisso com a representatividade negra e periférica, ela usou sua própria experiência de vida como fonte de inspiração, focando na importância de dar voz a quem raramente é ouvido no audiovisual brasileiro.
A trajetória de Zara começou de forma orgânica, durante sua passagem pelo Instituto Federal de Goiás (IFG), onde se aprofundou no estudo de autoras como Carolina Maria de Jesus e Lélia Gonzalez, além de filósofos como Franz Fanon. A conscientização sobre sua identidade como mulher negra e as questões de violência contra jovens negros nas periferias a motivaram a criar sua primeira obra, que aborda o genocídio da juventude negra. A cineasta percebeu que a indústria cinematográfica brasileira é elitista e racista, o que dificultava o acesso de cineastas periféricos ao financiamento e espaços de exibição. Contudo, ela decidiu fazer filmes com os recursos que tinha à disposição, sem esperar pela perfeição tecnológica.
Além de suas produções, Zara criou o Cineclube Periférico, um projeto que leva exibições gratuitas de filmes para praças e favelas, com o objetivo de democratizar o acesso ao cinema e promover a transformação social. A iniciativa surgiu após a cineasta ouvir de uma criança que ela nunca havia ido ao cinema, o que a fez refletir sobre a importância de trazer a experiência cinematográfica para a periferia. Para Zara, a produção independente e periférica não busca competir com o cinema mainstream, mas sim impactar de fora para dentro, criando uma mudança de perspectivas e abrindo caminho para futuras gerações se verem representadas nas telas.