A crescente popularização de câmeras de segurança, como as de vídeo-porta, tem transformado a dinâmica das vizinhanças. Se antes as ruas eram definidas por rotinas tranquilas, como o som de cortadores de grama e a presença de cortinas nas janelas, hoje a vigilância parece ser constante. As câmeras capturam cada movimento, desde a chegada de entregas até o trajeto das crianças a pé, criando um ambiente de monitoramento contínuo.
Grupos de WhatsApp de vizinhança se tornaram plataformas onde as gravações das câmeras são compartilhadas diariamente. Os moradores reportam desde atividades suspeitas até simples registros de indivíduos em situações pouco comuns, como alguém encostado a uma parede ou situações de roubo, como furtos de pacotes. Esses vídeos, frequentemente reencaminhados entre diferentes ruas, contribuem para um clima de vigilância constante e, muitas vezes, exagerada.
Apesar de oferecerem uma sensação de segurança, esses sistemas de monitoramento levantam questões sobre a privacidade e os limites da vigilância em nossas vidas. A constante circulação de imagens, muitas vezes descontextualizadas, pode gerar um ambiente de vigilância excessiva, com a população cada vez mais vigiada e alertada por pequenos detalhes do cotidiano. A mudança no comportamento das comunidades é evidente, mas as consequências dessa vigilância em larga escala ainda são debatidas.