O primeiro episódio da série “Apoteose do Samba”, exibido neste sábado (15), discutiu como os enredos das escolas de samba evoluíram ao longo das décadas, refletindo os diferentes contextos sociais e políticos do Brasil. O pesquisador Leonardo Antan e personalidades como Tia Surica e Neguinho da Beija-Flor destacaram como a escolha de temas nas escolas reflete o momento histórico e as transformações vividas pela sociedade brasileira. De acordo com Antan, as escolas de samba atuam como espelhos da época em que se inserem, trazendo à tona reflexões do povo negro e brasileiro.
Nas décadas de 1960 e 1970, os enredos se concentraram em movimentos sociais, com destaque para o uso do onírico como forma de protesto durante o regime militar. Nos anos 80, com a redemocratização, o foco se voltou para a reflexão sobre a identidade nacional e as mudanças sociais, com a popularização de enredos críticos e políticos. Durante esse período, a crítica à “superescola de samba” e à história oficial começou a ganhar força, como evidenciado em desfiles icônicos da década.
Nos anos 90 e 2000, as escolas passaram a explorar mais a história tradicional e a reflexão sobre a nova realidade econômica do Brasil. Contudo, na década de 2010, com a reabertura de discussões políticas e sociais, temas como machismo, racismo e LGBTfobia voltaram a ser abordados com mais intensidade, refletindo o cenário político e social conturbado. Na década de 2020, a tendência foi a valorização das religiões de matriz africana e a inovação na narrativa e pesquisa dos enredos, consolidando a constante adaptação do samba aos tempos modernos.