Lançado em 1975, Refazenda marca o retorno de Gilberto Gil à sua essência musical após o exílio, refletindo uma busca introspectiva e um mergulho no universo ruralista e espiritual. O álbum, com letras que abordam questões existenciais e a vida no sertão nordestino, foi produzido com a colaboração de artistas como Perinho Albuquerque e Dominguinhos, sendo este último um elemento crucial no toque regional e na composição de faixas marcantes. A capa do disco, com fotos de João Castrioto e design de Aldo Luiz, complementa o conceito de introspecção e busca por equilíbrio interior, representando o contraste com o álbum anterior Expresso 2222, mais voltado para influências urbanas e externas.
Refazenda é composto por músicas autorais que exploram a simplicidade e profundidade da vida no interior, como a faixa-título e “Lamento sertanejo”. A colaboração com Dominguinhos em “Tenho sede” e “Lamento sertanejo” destaca a conexão entre o rock e a música nordestina. A canção “Essa é para tocar no rádio” também se destaca, embora tenha sido inicialmente gravada para um projeto anterior e apenas completada com o acordeom de Dominguinhos. A sensibilidade de Gil para com as questões sociais é vista em faixas como “Pai e mãe”, que mistura gêneros em uma época de repressão sexual, e “Jeca Total”, inspirada no poeta Jorge Salomão, que faz referência ao Brasil rural e urbano.
O álbum mantém sua relevância e frescor até hoje, abordando temas universais sem se render aos modismos musicais de sua época. Seu som, caracterizado pela mistura de ritmos regionais e influências do rock, oferece uma obra atemporal que reflete a busca do artista por uma conexão mais profunda com suas raízes e com seu próprio interior. Refazenda é, assim, um marco na carreira de Gilberto Gil, trazendo à tona uma reflexão sobre identidade, espiritualidade e a vivência no Brasil rural, ainda com o mesmo vigor de 50 anos atrás.