Em 1889, no Ceará, um evento religioso marcado como o primeiro milagre atribuído a Padre Cícero teve como verdadeira protagonista a beata Maria de Araújo. Nascida em 1862, em uma família humilde, Maria dedicou sua vida à religião e se destacou por seu conhecimento bíblico. Trabalhando como lavadeira e costureira, ela se uniu ao Apostolado da Oração, com o desejo de se tornar freira, embora as oportunidades para mulheres de sua classe fossem limitadas. O milagre aconteceu durante uma vigília em Juazeiro, quando Maria testemunhou a transformação do pão em sangue durante a eucaristia, episódio conhecido como o Milagre da Hóstia de Juazeiro.
Após o milagre, Maria passou a ser examinada por autoridades religiosas e médicas, sendo diagnosticada com estigmas, marcas semelhantes às de Cristo. Relatos indicavam que ela também tinha visões espirituais, o que aumentava sua notoriedade. No entanto, a Igreja Católica não reconheceu o evento, e o bispo do Ceará, D. Joaquim José Vieira, enviou um padre para investigar, que concluiu que a beata era uma impostora. A partir disso, a Igreja iniciou um processo de silenciamento de Maria, culminando com a destruição de registros sobre ela pelo Vaticano em 1894.
Maria de Araújo passou seus últimos anos em reclusão e faleceu em 1914. Seu corpo desapareceu misteriosamente, alimentando o mistério sobre sua história. Apesar dos esforços da Igreja para apagá-la da memória coletiva, Maria tornou-se um símbolo de resistência e fé, sendo reconhecida como cidadã cearense e ganhando um feriado municipal em sua homenagem. Sua trajetória, marcada pela superação de suas condições de mulher negra e pobre, continua a ser lembrada como um legado importante para a história de Juazeiro do Norte e do Ceará.