Liel Marín é o único estudante transmasculino no curso de Medicina da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), aprovado por meio da política de cotas. O Brasil, desde 2018, conta com pelo menos 23 universidades públicas que implementaram cotas para estudantes trans, uma ação afirmativa que visa garantir o acesso ao ensino superior para essa população. No entanto, os números mostram que, apesar da reserva de vagas, ainda há grande dificuldade para que essas vagas sejam ocupadas, com uma alta taxa de ociosidade, evidenciando a exclusão vivida por pessoas trans antes de chegarem à universidade.
A trajetória de Liel Marín ilustra as dificuldades enfrentadas por muitos trans durante o processo de transição. Após anos de negação de sua identidade de gênero e sofrendo com discriminação, ele encontrou na medicina uma forma de reiniciar sua vida profissional, abandonando uma carreira de jornalista marcada pela transfobia. Liel, que se identifica como transmasculino, relata o sofrimento de ser estigmatizado na área da saúde, com médicos que associavam problemas comuns a efeitos do tratamento hormonal e a recusa em respeitar seu nome social. Sua experiência reflete a necessidade de um atendimento mais humanizado e inclusivo nas instituições de saúde.
Embora as cotas tenham sido uma conquista importante, pesquisas indicam que as pessoas trans ainda enfrentam discriminação desde o início de sua educação. Um levantamento realizado pelo projeto TransVida revelou que 37% dos entrevistados sofreram transfobia em sua trajetória escolar, com professores e outros profissionais da educação sendo os principais agentes de violência. Isso pode explicar, em parte, a baixa adesão e a evasão de estudantes trans no ensino superior, mesmo com as cotas disponíveis. A educação e a formação de profissionais que saibam acolher a diversidade de gênero são apontadas como passos fundamentais para mudar esse cenário.