A edição de aniversário de 45 anos do *Rural* apresentou um retrato das lapas, casas de pedra que servem como moradia para famílias de apanhadores de flores sempre-vivas na Cordilheira do Espinhaço, em Minas Gerais. Durante alguns meses do ano, essas casas se tornam o lar temporário dos agricultores, que migram para a região no início da florada das plantas, uma atividade crucial para a economia local. As lapas são passadas de geração em geração e oferecem uma estrutura simples, mas funcional, equipada com fogão a lenha e espaço para armazenar alimentos e equipamentos. A arquitetura das casas é esculpida diretamente nas pedras, adaptando-se ao terreno montanhoso.
A coleta das sempre-vivas, incluindo flores e capim dourado, é uma importante fonte de renda para as comunidades da região, que exportam grandes quantidades dessas plantas, utilizadas para a produção de objetos como vasos, chapéus e bolsas. Além disso, os apanhadores mantêm atividades agrícolas e pecuárias, e durante a seca, também praticam a transumância, uma migração sazonal para áreas com pastagem abundante. Esse movimento constante, que acontece ao longo do ano, foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas como patrimônio agrícola mundial, sendo o único tipo de patrimônio desse gênero no Brasil.
A vida dos apanhadores é marcada por essa adaptação ao ambiente montanhoso e à rotina de migração. As famílias se deslocam para a região na época da florada e permanecem nas lapas, criando uma rotina de trabalho duro e convívio comunitário. A coleta das flores envolve longas caminhadas, mas também a preservação de uma tradição que envolve todas as faixas etárias, com crianças e adolescentes mantendo vivos os costumes da região. O modo de vida nas lapas, que mistura trabalho e convivência familiar, reflete a resiliência e a conexão profunda das comunidades com o território e suas práticas agrícolas.