O governo brasileiro está avaliando a possibilidade de permitir a venda de medicamentos que não exigem receita médica, como os medicamentos de venda livre (OTCs), em supermercados. De acordo com análises de bancos, essa medida não seria vista como uma mudança disruptiva para o setor de farmácias, já que a demanda por esses produtos não deve aumentar significativamente. Além disso, a transição para o varejo alimentar não deve incluir todos os tipos de medicamentos OTC, pois alguns apresentam baixa rotatividade de vendas. O impacto seria mais relevante para as empresas farmacêuticas, que poderiam acessar novos canais de distribuição, como os supermercados, especialmente para marcas já presentes em grandes redes de varejo.
Em termos financeiros, as farmácias obtêm uma parcela considerável de suas receitas com medicamentos OTC, mas a medida não seria uma ameaça estrutural para o setor. Supermercados com farmácias anexas, como Carrefour Brasil e Assaí, já têm presença nesse mercado. No entanto, o setor farmacêutico pode ser impactado positivamente, já que a medida ampliaria o acesso a produtos de venda livre. O mercado de medicamentos OTC representa cerca de 15% a 20% das vendas de farmácias, com uma grande parte das vendas concentrada em alguns produtos, como os da RD e Pague Menos.
O Itaú BBA considera que a proposta pode ser negativa para farmácias, mas positiva para os varejistas de alimentos. Para as redes de supermercados, a venda de medicamentos OTC poderia aumentar as receitas, mas os custos com regulamentações sanitárias poderiam reduzir a lucratividade. As margens brutas de medicamentos OTC são mais altas em comparação com outros produtos alimentícios. No entanto, analistas destacam que o maior desafio da proposta é a preocupação com a automedicação, que já representa um número significativo de casos de intoxicação no país. O impacto final dessa medida dependerá da regulamentação e do comportamento dos consumidores.