A recente polêmica envolvendo a perda de um bebê e a exposição do luto nas redes sociais gerou intensos debates sobre a ética da divulgação de momentos íntimos, especialmente quando envolvem dor e sofrimento. A publicação de fotos e declarações sobre o aborto espontâneo gerou críticas, principalmente pela forma como a situação foi tratada nas redes sociais, gerando gatilhos emocionais em internautas. O fato de um diagnóstico de autismo ser utilizado como justificativa para comportamentos considerados inadequados também trouxe à tona discussões sobre os limites de tais explicações. Especialistas afirmam que o autismo não pode ser visto como uma explicação para atos impulsivos ou controversos, e que o uso desse argumento pode reforçar estigmas sobre as pessoas no espectro.
Além disso, a exposição de uma experiência tão pessoal e dolorosa nas plataformas digitais levanta questões sobre a responsabilidade emocional de quem compartilha esse tipo de conteúdo. Para algumas pessoas, ver figuras públicas enfrentando dificuldades pode ser reconfortante, mas, para outras, essa exposição pode ser invasiva e causar desconforto. A psicanalista especialista em autismo alerta para a necessidade de refletir sobre o impacto dessa visibilidade, considerando que a dor e o luto, como processos subjetivos, muitas vezes exigem mais introspecção do que a velocidade das redes sociais permite. O fenômeno de compartilhar o sofrimento nas plataformas digitais pode desviar o foco da experiência interna e afetiva, buscando validação externa, o que pode gerar ainda mais sofrimento tanto para quem compartilha quanto para quem consome.
A situação também revela como a sociedade lida com a maternidade e a dor, muitas vezes cobrando uma perfeição irrepreensível das mulheres, o que gera consequências físicas e emocionais. A especialista destaca que, para muitas mulheres que passaram por experiências de aborto espontâneo, ver esse tipo de postagem pode reviver a dor de um sonho interrompido e reforçar a sensação de culpa, independentemente de como o luto seja processado. O uso das redes sociais para lidar com a perda exige um cuidado especial, pois, por mais que a exposição de momentos íntimos possa ser uma forma de lidar com a dor, ela pode também afetar negativamente outras pessoas, evidenciando a necessidade de maior sensibilidade ao compartilhar experiências tão delicadas.